Nesta edição vamos falar do Arcano 14 – A Temperança.
Um dos aspectos da Temperança, que está muito em falta na época que vivemos, é a paciência. Este Arcano nos fala de calma, de espera, de dar tempo ao tempo para que as coisas aconteçam.
Neste mundo que criamos para nós, temos muita dificuldade de seguir os conselhos da Temperança, estamos sempre correndo, “querendo tudo para ontem”, afobados para alcançar algo que nem sabemos bem o que seja.
Temos a sensação de que se não nos esforçamos o tempo todo, se não aceleramos sem parar, perderemos alguma coisa nossa por direito ou seremos suplantados por alguém mais, na busca pelo sucesso.
Na ânsia de “chegar lá”, não vivemos o agora, não nos damos o direito de realmente aproveitar as coisas que nos alimentam a alma.
Tudo isso gera muita angústia e frustração porque, muitas vezes, ainda não é o momento de determinadas coisas acontecerem. O “tempo certo” é função de um número grande de coordenadas.
Na maior parte, elas dependem de você mesmo, do seu grau de amadurecimento, da sua consciência, da sua vontade, do que você realizou, da forma que lidou com a situação… Mas, uma parte depende do universo, porque você não está sozinho no mundo e aquilo que acontece com você repercute também em outras pessoas ou depende da ação de outras pessoas. Tudo tem de encaixar para trazer o melhor para todos.
E quando não é ainda o momento certo, o jeito é ter paciência, dar tempo ao tempo para que tudo aconteça. Mas, como é difícil para nós viver isso, não conseguimos parar, relaxar, entregar ao Universo. Continuamos acelerando, insistindo, achando que se corremos mais, se tentarmos com mais empenho, tudo vai dar certo. E, na ânsia de fazer, acabamos, muitas vezes, bloqueando as coisas. Criamos tanta tensão, tantos medos que quando o momento certo finalmente chega, já não temos condições de aproveitá-lo.
A Temperança vem nos dizer que é importante diminuir o ritmo para poder apreciar o percurso, ela nos fala que, em certos momentos, é importante simplesmente sentar debaixo de uma árvore, para sentir o vento nos abraçar: olhar um pôr do sol; caminhar devagar, sem destino; contar as estrelas do céu; jogar conversa fora; ficar quietinho, abraçadinho com alguém querido; enfim, simplesmente ser feliz, sem pressa, para deixar o tempo passar.
A Temperança é também o Arcano da harmonia e da paz.
Ele nos fala que muitas vezes vale a pena abrir mão dos nossos desejos em função do outro, do entendimento e da cooperação.
A Temperança anda meio sumida nos nossos tempos, queremos sempre ter razão, discutimos por tudo e por nada só para provar que estamos certos, que sabemos mais ou somos mais fortes. Magoamos os outros, desnecessariamente, para que a nossa verdade prevaleça.
Antigamente, nos casamentos, aceitava-se tudo em função da família, as pessoas se violentavam e se anulavam para manter a relação, para continuar casados. O que não era bom e trazia muito sofrimento.
Agora vivemos o oposto, não aceitamos nada, estamos sempre com as malas prontas e um pé na porta para que na primeira dificuldade possamos encerrar a união e partir para um outro casamento, acreditando que ainda vamos encontrar o par perfeito, a relação ideal. E isso também não é bom e causa muito sofrimento.
Quando vamos perceber que existe um caminho do meio, que se não trabalharmos as dificuldades não teremos uma relação sólida e profunda?
É hora de ativarmos a nossa Temperança interna para lidarmos de outra forma com os relacionamentos, sejam eles sentimentais, profissionais, familiares ou de amizade. É o momento de aprendermos a ter mais compaixão e empatia com as nossas dificuldades e com as dos outros.
Quando abrimos mais o coração, podemos perceber que por trás de um ditador existe uma pessoa que se acha menos que os outros, que escondido num exibicionista existe alguém que não acredita no seu valor, que uma pessoa desagradável pode estar profundamente infeliz e que o “dono da verdade” se sente profundamente inseguro e, portanto, não aceita ser contestado.
Um tímido pode esconder um sábio que tem muito a oferecer se for valorizado ou um grande amor não expresso.
Quando nos abrimos para o amor incondicional podemos perceber que o que é fácil para nós pode ser muito difícil para o outro e, agir com compaixão e amorosidade. Costumamos julgar os outros pelos nossos padrões e exigir a resposta que daríamos na mesma situação.
Esquecemos que temos visões diferentes da vida e portanto as nossas ações são corretas para a nossa forma de ver a vida e não para a visão do outro.
O mais importante de tudo é compreender que todos que estão na sua vida tem algo a lhe oferecer, e não estão aí por acaso. Portanto, se você não quer uma pessoa na sua vida, aprenda depressa a lição que ela está lhe oferecendo e enquanto faz isso tenha mais compaixão por ela para tornar tudo mais fácil e viver com mais harmonia.
Anna Maria de La Rocque Ormonde